segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Todos derrotados

Serei breve no meu comentário sobre a rodada carioca do fim de semana. No sábado, em pleno Maracanã, o Fluminense empatou com o Sport do Recife. No domingo, o Flamengo empatou com o Inter no Beira-Rio, e Vasco e Botafogo empataram entre si no clássico do Maracanã.

No jogo de sábado, o Tricolor não foi nem uma caricatura, nem uma sombra, do time que deu show na Libertadores. O mestre Cuca está inventando demais, improvisando demais. Os sete pontos conquistados no returno vieram da sorte, a mesma sorte que acompanha o sujeito que atravessa a rua e não é atropelado por uma carrocinha de chicabon.

No Beira-Rio, o Rubro-Negro saiu atrás em um frango do goleiro Bruno. Disse frango mas já me corrijo: foi um autêntico e colossal frangaço. Nilmar não bobeou e marcou para o Colorado. O clube da Gávea acabou empatando o confronto, em gol do folclórico Obina.

No clássico do Maracanã, o Botafogo vinha embalado por seis vitórias consecutivas! Já o Vasco vinha aos trancos e barrancos. Tudo me levava a crer, pois, em uma vitória do quadro de General Severiano. E o triunfo alvinegro se desenhou no gol de Wellington Paulista, em jogada do ex-tricolor Carlos Alberto. Mas, amigos, o jogo só acaba quando termina. E, no apagar das luzes, no frigir dos ovos, eis que o time de São Januário igualou o marcador.

Assim, a rodada carioca no campeonato nacional gerou quatro empates. O mestre NR dizia que o empate é uma derrota dupla. Concordo com ele: nada pior que um empate. Saem frustrados os dois times, sai frustrado o trio de arbitragem, sai frustrado o vendedor de chicabon na arquibancada, sai frustrada a massa que pagou para ver um vencedor e viu dois derrotados. Assim foi a rodada para os times do Rio: foram todos derrotados.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Vitória nos Aflitos

Começo anunciando que o Fluminense não jogou bem. Nosso segundo triunfo consecutivo somente veio na base das bolas paradas e do talento de Washington. Tivemos sorte. Mas para tudo na vida é preciso sorte. Sem sorte, o sujeito não consegue nem atravessar a rua, podendo ser atropelado por uma carrocinha de Chicabon. (diria o profeta)

O time do Náutico mostrou-se fraco. Os times em geral têm se mostrado fracos nesse campeonato. O próprio líder Grêmio não joga isso tudo que falam. Joga tão pouco que, dentro de seus domínios, precisou da ajuda do juiz para ganhar do São Paulo outro dia. Joga tão pouco que é capaz de perder para o Flamengo amanhã, no Maracanã, apesar da bolinha que o Rubro-Negro vem jogando.

Nesse campeonato de times fracos, um time que tem se mostrado acima da média é o Botafogo. Há tempos não brilhava tão forte a Estrela Solitária. Mas, hoje, também o alvinegro precisou da ajuda do juiz para ganhar do Cruzeiro, em pleno Engenhão. O larápio inventou um pênalti, que Lúcio Flávio converteu com a categoria que lhe é peculiar.

Voltando ao jogo do Tricolor, fizemos 3 a 1 no Náutico, lá nos Aflitos. Um bom resultado, não há dúvidas. Mas não nos enganemos: o time continua desarranjado. Um bando em campo. Se Cuca dará seu jeito no quadro tricolor, só o tempo dirá. Será ajudado pela volta dos Thiagos, que foram passear em Pequim, já que Dunga não quis escalá-los, negando o óbvio e assim perdendo o torneio olímpico.

Daqui a dez dias, tem Fla-Flu. É impressionante como o Pó-de-Arroz cresce às vésperas de um Fla-Flu. Começo a acreditar que as vitórias de agora são a moldura para a vitória no Fla-Flu. O Flamengo tem camisa, é inegável. Mas em Fla-Flu a camisa rubro-negra não pesa. A sorte parece sempre pender para o lado de Álvaro Chaves. E nós não nos envergonhamos disso. Para tudo na vida, é preciso sorte. Sem sorte, o sujeito não consegue nem atravessar a rua.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

A Joana d'Arc Tricolor

Quarta-feira passada, estive no Maracanã, para assistir a mais um jogo do Fluminense, contra o São Paulo, pelo Campeonato Brasileiro. Em meio à crise, por causa da penúltima posição na tabela, a principal torcida organizada do Tricolor resolveu realizar um protesto antes, durante e depois da partida. Seus integrantes vieram todos vestidos de preto, e carregavam cruzes e caixões, simbolizando o enterro de alguns jogadores e do treinador Renato Gaúcho. A vitória do pó-de-arroz sobre o atual bicampeão, pelo escore de 3 a 1, ficou em segundo plano. Os três tentos de Washington levaram os três pontos para Álvaro Chaves, mas o principal momento da noite se deu nas arquibancadas do outrora Maior do Mundo.

O protesto fúnebre da torcida organizada causou reações diversas. Alguns torcedores rivais zombaram do ato, chamando-o de ridículo e cômico. Os jornalistas em geral criticaram-no, apesar de ele ter sido pacífico. Os torcedores do Fluminense no Estádio Mário Filho se dividiram em três grupos: os próprios coveiros, vestidos de preto e dispostos a enterrar o time; os que apoiaram o ato, assistindo a ele passivamente; e os que discordaram, vaiando o protesto. Durante a partida, o primeiro grupo, dos coveiros, somente se manifestou com vaias ao próprio time, e aplausos irônicos ao gol do São Paulo. O último grupo entoou os tradicionais cantos de apoio ao time, durante os 90 minutos de disputa (mesmo após o gol do São Paulo, que inaugurou o placar).

No dia seguinte, tentei me lembrar se já havia ocorrido algo semelhante àquele protesto na história do futebol brasileiro. Ao vasculhar as crônicas de Nelson Rodrigues, encontrei. Em crônica publicada na Manchete Esportiva de 17/03/1956, intitulada "O Martírio", Nelson relata o episódio em que a torcida do Fluminense queimou uma bandeira do próprio clube, outro protesto que gerou indignação. Ele comparou a bandeira queimada a Joana d'Arc, mártir que também morreu queimada. Transcrevo abaixo o brilhante texto do profeta.

'Quando o Fluminense perdeu do Flamengo, por 6 x 1, a torcida tricolor não teve meias medidas: - queimou a bandeira do clube, em pleno Maracanã, numa cerimônia pública e horrenda. E, depois, não saciados, aqueles vândalos, aqueles Neros, aqueles Dráculas sapatearam em cima das cinzas! Lembro-me que o episódio provocou, na ocasião, indignações histéricas. Ninguém entendia que fizessem, com a bandeira Tricolor, naquela tarde, uma Noite de São Bartolomeu. E, no entanto, o incidente oferecia aspectos que escapavam à massa ululante. Eis a verdade: - com o fogaréu improvisado, o martírio invadia o futebol, incorporava-se à tradição do Fla-Flu, dramatizava o clássico, para sempre. Daqui a duzentos anos, quando se encontrarem o Flamengo e o Fluminense, todos hão de se lembrar daquela que, entre todas as bandeiras, foi queimada como uma Joana D’Arc. De resto, ensina a nossa experiência vital que nada se faz sem sofrimento. Até para se beber um copo d’agua é preciso um pouco, um mínimo de martírio.

Por outro lado, devemos considerar o aspecto afetivo do fato. E aqui pergunto: - por que um torcedor rasga a carteirinha do clube ou incendeia a sua bandeira? Respondo: - por causa de uma nítida, taxativa, incontível dor de cotovelo. Sem querer e sem saber, a torcida dava uma feérica demonstração de muitíssimo amor. E nunca, como naquele momento, o Fluminense mereceu tanto a atra e negra inveja dos seus co-irmãos. De fato, ele podia bater no peito e clamar, para qualquer um: "Eu fui queimado e tu, não!"

Findos os 6 x 1, consumado o sacrifício da bandeira, não tardaríamos a verificar que o martírio viera potencializar o time. Senão vejamos: até aquele momento, o quadro estava caindo aos pedaços. Ou a derrota deslavada ou a vitória vergonhosa. E, súbito, sentíamos que a equipe era outra. Ou antes: - era a mesma, porque lá continuavam os Waldo, os Lafaietes, os Bassu. Os resultados é que variavam. Vencemos o Vasco, com dez elementos; o Bonsucesso, de banho; o Flamengo, de 3 x 2; novamente o Vasco, por 2 x 0. Como explicar o inexplicável? A verdade é que, por trás das novas atuações, havia o estímulo novo e irresistível do martírio. Víamos coisas estarrecedoras, como seja: - Lafaiete inexpugnável ou, então, um jogador como Pinheiro, grande, maciço, compacto como uma catedral, a correr, em campo, qual um coelhinho de desenho animado.

Por certo, há outros fatores empurrando o Fluminense. Um deles é a mediocridade, que caracteriza o time. E sejamos justos: - existe nos homens e nos quadros medíocres uma força específica e terrível. Já os geniais são muito mais precários e perecíveis. O América foi genial contra o Flamengo e nunca mais. Explica-se: - o sublime não se repete, é bissexto, acontece uma vez na vida, outra na morte. O Flamengo tem o milagre da camisa. Mas o sobrenatural também pinga as suas manifestações. Ao passo que o Fluminense pode ser medíocre todos os dias, em todos os jogos, chova ou faça sol. Essa constância na mediocridade é que lhe dá uma grandeza inexcedível e talvez o faça campeão. Ele veio se arrastando pelo campeonato. Dir-se-ia que seu lema é o eterno e eficaz: - "devagar e sempre". Resta ainda observar que, no caso do Fluminense, trata-se de uma mediocridade acrescida de martírio.'

Em tempo 1: meu objetivo ao publicar esse texto é pedir respeito mútuo entre os integrantes da Torcida Young Flu e os torcedores que discordaram do protesto da organizada. Todos nós, cada um à sua forma, queremos o bem do Fluminense. Cada um com sua "feérica demonstração de amor" ao Fluminense! Em paz!

Em tempo 2: obrigado por tudo, Renato Gaúcho, eterno ídolo do Fluminense, como jogador e como treinador!

Em tempo 3: boa sorte, Cuca!

Em tempo 4: descanse em paz, Píndaro! A seleção Tricolor no céu ganhou um reforço de peso!

Saudações Tricolores!
PC